quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Jeje - Mina


Os Voduns da Casa das Minas



A Casa das Minas (Kwlegbetan Zomadonu ou Kwerebetan de Zomadonu) é um terreiro quase que bicentenário e que mantém firme as tradições religiosas africanas de culto aos Voduns, em especial àqueles que fazem parte dos cultos da Família Real. Os voduns da Casa são agrupados em família, destacando-se a família de Davice (Família Real) que engloba os voduns antigos reis e nobres, dignatários do antigo Dahomey. A ancestral mítica desta família é Nochê Naé (Sinhá Velha), a quem todos na Casa das Minas obedecem e prestam respeito, sendo que não se deve falar muito dela. Esta família segue duas ramificações: a primeira é de Zomadonu – vodun dono da Casa e vodun da fundadora e das três primeiras mães da Casa; e a segunda é a de Dadaxó (Dadarrô – pai do Dahomé), Doçú, Bedigá, Sepazin, Agongônu, Toçá, Tocé, Jogorobossú. Outra importante família é a de Dambirá, dos Voduns da terra e das doenças, como Akosi, Azile e Azonce, Polibojí, Lepon, Alôgue, Ewá, Bôça e Boçucó. E  seguindo as famílias hóspedes da casa Queviossô (dos voduns do trovão e dos astros, que são considerados nagôs dentre os jejes da casa, mesmo não sendo orixás, e que são mudos, a exemplo de Badé, Sogbo (que na Casa das Minas é um vodun feminino, sinretizada com Sta Bárbara e Oyá), Averekete, Lissá, Agbé), e as famílias de Savalunu (voduns de Savalu) e Alladanu (voduns de Alladá).
Legba não é cultuado na Casa das Minas e é tido como trapasseiro, um ser maligno. Duas explicações teria este motivo: o sincretismo extremo que caracteriza o Tambor de Mina, e o fato de Adandozan se dizer “um protegido de Legba” e que depois de toda suas atrocidades e maldades deixaram o povo Abomenu entristecidos e inclusive Nã Agotimé.
A Casa das Minas é exclusivamente de cultura Jeje, sendo seus cânticos em lingua fongbé-ewegbe, e suas divindades são exclusivamente Voduns, não havendo nenhum orixá em seu culto (embora devotem-se a Yemanjá, por exemplo, mas não há culto interno para estas divindades). A casa não gerou nenhuma filial, mas sua estruturação serviu de base para organização das outras Casas de Tambor de Mina.
Antigamente cultuavam-se na Casa das Minas, as “meninas” (Tobôssis) e que desapareceram nas décadas de 60 e 70. Segundo fontes o papel das Tobossis era harmonizar a Casa, dando nomes africanos às Vodunsìs e falavam em outra língua.
 Cada família ocupa uma parte específica da casa e tem cânticos, comportamentos e atividades próprias.
Na Casa das Minas as vodunsis só recebem um vodum e só dançam quando estão com ele. Durante o transe os voduns não comem, não bebem, não satisfazem necessidades fisiológicas, cantam e dançam com os olhos abertos, conversam entre si e com devotos, dão conselhos e alguns gostam de fumar.
Na mina-jeje os toques são realizados por três tambores com couro numa só boca (hum, humpli e gumpli), batidos com a mão e com aguidavi. São também acompanhados pelo ferro (gã) e por cabaças pequenas revestidas de contas coloridas. Nas festas as vodunsis em transe, usam saias lisas na mesma cor ou estampada, blusa branca rendada, toalha branca bordada amarrada no seio ou na cintura, guias e rosários de miçangas pequenas coloridas em que predominam o marrom(gonjeva), carregam na mão um lenço branco pequeno e usam sandália. Algumas usam símbolo do seu vodum, como bengala, rebenque, guizos, lenço colorido no ombro e cabelos soltos.
Uma grande Noche ou Sacerdotisa, foi Mãe Andresa, última princesa de linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com 104 anos de vida.



"O panteão da Casa das Minas"

"Embora a Casa das Minas não tenha originado outras casas de culto, sua estrutura e panteão tem sido um modelo para outras casas.
Os voduns, deuses do povo fon ou jeje são forças da natureza e antepassados humanos divinizados. Os voduns cultuados na Casa das Minas estão agrupados nas famílias de Davice, Dambirá, Savaluno e Queviossô (Ferretti, 1989, 1996).
Alguns voduns jovens chamados toqüéns ou toqüenos cumprem a função de guias, mensageiros, ajudantes dos outros voduns. São eles que "vêm" na frente e chamam os outros. Têm cerca de quinze anos de idade, podendo ser masculinos ou femininos, pertencendo a maioria à família de Davice. Nos clãs de Quevioçô e Dambirá são os voduns mais jovens que desempenham esse papel.
Além dos voduns, fazem parte do panteão da Casa das Minas as tobóssis, divindades infantis femininas, consideradas filhas dos voduns, recebidas pelas dançantes com iniciação plena, as chamadas vodúnsi-gonjaí. As princesas meninas não vêm mais na Casa das Minas. Com a morte das últimas vodúnsi-gonjaí, parte do processo de iniciação se perdeu, de modo que as dançantes remanescentes não tiveram iniciação no grau de gonjaí, de senioridade. E as tobóssis não vieram mais na Casa das Minas. Diferentemente dos voduns, que podem manifestar-se em diferentes adeptos, a tobóssi, na Casa das Minas, é considerada entidade única, exclusiva de sua vodúnsi-gonjaí, e que desaparece com a morte da dançante que a recebia, não se incorporando depois em mais ninguém.
Estudos exaustivos de Sérgio Ferretti já citados, assim se configura o panteão dos voduns na Casa das Minas, família por família:
A Família de Davice reúne os voduns da família real do Abomey, no antigo Daomé, atual Benim, e é composta dos seguintes voduns: 
Nochê Naê, Mãe Naê - a vodum mais velha e ancestral mítica do clã.
Zomadônu - o dono da Casa das Minas e chefe de uma das linhagens da família de Davice. Rei e pai dos toqüéns Toçá e Tocé (gêmeos), Jagoboroçu (Boçu) e Apoji. Zomadônu é filho de Acoicinacaba. 
Acoicinacaba (Coicinacaba) - pai de Zomadônu e filho de Dadarrô.
Dadarrô - chefe da primeira linhagem da família; vodum mais velho da família de Davice. Casado com Naedona e pai de Acoicinacaba, portanto, avô de Zomadônu. É pai de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó. Representa o governo e é protetor dos homens de dinheiro. 
Naedona (Naiadona ou Naegongom) - esposa de Dadarrô e mãe de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó.
Arronoviçavá - irmão de Naedona, é cambinda (mas considerado jeje por outras casas).
Sepazim - princesa casada com Daco-Donu, com quem teve um filho chamado Tói Daco, que é toqüém.
Daco-Donu - marido de Sepazim, pai de Daco.
Daco - filho de Sepazim e Daco-Donu. Toqüém. 
Doçu (Doçu-Agajá, Maçon, Huntó ou Bogueçá) - jovem cavaleiro, boêmio, poeta, compositor e tocador. Pai dos três toqüéns Doçupé, Nochê Decé e Nochê Acuevi.
Doçupé - filho de Doçu. Toqüém. 
Nochê Decé - filha de Doçu. Toqüém.
Nochê Acuevi - filha de Doçu. Toqüém.
Bedigá - também cavaleiro como o irmão Doçu. Aceitou a coroa do pai Dadarrô que Doçu tinha recusado. Protetor dos governantes, advogados e juízes.
Apojevó - filho mais novo de Dadarrô. Toqüém.
Nochê Nanim (Ananim) - filha adotiva de Dadarrô, criou Daco (neto de Dadarrô) e Apojevó (seu irmão mais novo). 
Família de Savaluno. É uma família de voduns amigos da família de Davice. Não são jeje e são hóspedes na Casa das Minas. 
Topa - um vodum solitário, o qual tem mais dois irmãos, Agongono e Zacá.
Zacá (Azacá) - vodum caçador.
Agongono - vodum que se relaciona com os astros; amigo de Zomadônu e pai de Jotim.
Jotim - filho de Agongono. Toqüém. 
Família de Dambirá. Reúne os voduns da terra, ligados às doenças e às curas. 
Acóssi Sapatá (Acóssi, Acossapatá ou Odan) - curador e cientista, conhece o remédio para todas as doenças. Ficou doente também por tratar os enfermos. Pai de Lepom, Poliboji, Borutoi, Bogono, Alogué, Boça, Boçucó e dos gêmeos Roeju e Aboju.
Azile - irmão de Acóssi. Também é doente.
Azonce (Azonço, Agonço ou Dambirá-Agonço) - irmão de Acóssi e Azile, o único que não é doente. É velho e é nagô. Pai de Euá.
Euá - filha de Azonce, também é nagô. 
Lepom - filho mais velho de Acóssi. Vodum velho.
Poliboji - também vodum velho.
Borutoi (Borotoe ou Abatotoe) - vodum velho. Usa bengala.
Bogono (Bogon ou Bagolo) - diz-se que se transforma em sapo.
Alogué - diz-se que é aleijado.
Boça (Boçalabê) - mocinha alegre, está sempre com o irmão Boçucó. Toqüém.
Boçucó- outro dos irmãos mais novos. Toqüém.
Roeju e Aboju - irmãos gêmeos. Ambos toqüéns.

Família de Quevioçô. É família de voduns considerados nagôs, embora não sejam orixás (entre eles, apenas Nanã é cultuada nos candomblés de orixá, tendo sido incorporada ao panteão iorubá desde a África, assim como seus filhos Omulu e Oxumarê). Quase todos são mudos para evitar que revelem os segredos dos nagôs ao pessoal da Casa das Minas, onde são hóspedes de Zomadônu. 
Nanã (Nanã Biocã, Nanã Burucu, Nanã Borocô ou Nanã Borotoi) - diz-se que é de Davice mas auxilia Quevioçô. É a nagô mais velha, a que trouxe os outros.
Naité (Anaité ou Deguesina) - mulher velha que representa a lua.
Vó Missã é a velha que resolve tudo entre os nagôs.
Nochê Sobô (Sobô Babadi) - considerada mãe de todos os voduns de Quevioçô (Badé, Lissá, Loco, Ajanutoi, Averequete e Abé). Representa o raio e o trovão. 
Badé (Nenem Quevioçô) - representa o corisco. Equivale a Xangô entre os nagôs. É mudo e se comunica por sinais.
Lissá - vodum dos astros. Representa o sol. É vadio e anda muito. Também é mudo.
Loco - representa o vento e a tempestade. Também é mudo.
Ajanutoi - é surdo-mudo e não gosta de crianças.
Abé - vodum dos astros, como Loco. Representa o cometa, uma estrela caída nas águas do mar. Vodum jovem e mulher. Uma dos poucos do clã que falam. É toqüém. Corresponde ao orixá Iemanjá dos nagôs.
Averequete (Verequete) - Também fala e é toqüém. 
Há dois voduns amigos da família de Quevioçô que tomam conta dos filhos de Dambirá. São eles: 
Ajautó de Aladá (Aladanu) - amigo da casa. Pai de Avrejó. É velho e usa bengala. Ajuda Acóssi, que é doente. Mora com o povo de Quevioçô. É rei nagô, protetor dos advogados.
Avrejó - Filho de Ajautó. Toqüém. 
Não se pode esquecer de Avievodum, Deus Supremo, a quem os voduns estão subordinados. Como Olodumare ou Olorum, Deus Supremo dos iorubás, Avievodum está distante e inalcançável, sendo pouco lembrado pelos devotos e não merecendo culto específico.


by Doté Rodrigo D'Avimaje
Rio de Janeiro, 30 de Agosto de 2012.
*fotos retirada da internet.

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